Apresentação

Gerar, disseminar e debater informações sobre RUÍDO URBANO, sob enfoque de Saúde Pública, é o objetivo principal deste Blog produzido no Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde - LabConsS da FF/UFRJ, com apoio e monitoramento técnico dos bolsistas e egressos do Grupo PET-Programa de Educação Tutorial da SESu/MEC.

quinta-feira, 12 de março de 2009

No Reino do Barulho

Petrônio Souto (*)
Vivemos no reino do barulho. Por aqui as pessoas detestam o silêncio. Pior: Se sentem incomodadas com o silêncio, não sabem viver sem ruído por perto. Não é sem razão que o Brasil tem pouquíssimos filósofos. Claro que isso é uma das causas do aumento da violência em nosso país, sobretudo nas grandes cidades.
O barulho estimula a violência. A pessoa submetida a fortes descargas fica excitada, fora de si, predisposta a ter reações animalescas, pelo menos é o que dizem os especialistas. Muitos crimes brutais, praticados pelos motivos mais fúteis, acontecem em um ambiente de barulho intenso.
A violência e o consumo de drogas lícitas e ilícitas têm aumentado até nas outrora pacatas cidades do interior. As causas? Os mil e um carnavais fora de época, “rodeios” (?!) e magashows de bandas de forró (??!!!), receita infalível para embalar farras homéricas de multidões inteiras, reunindo gente de todas as idades. Danado é que esses bacanais muitas vezes recebem patrocínio público, travestido de “apoio cultural”.

Em noventa e nove por cento das brigas entre vizinhos a causa é a mesma: Som alto, algazarra, festas que mais parecem orgias, veículos transformados em danceterias ambulantes, modos bizarros de diversão, tudo com o barulho infernal reinando absoluto. Para dormir e (veja só!) estudar, as pessoas ligam o rádio. Para trabalhar, ligam a televisão. Para ouvir música estouram os tímpanos de todos que estão por perto.
Até os cultos religiosos (Santo Deus!!!), onde no passado as pessoas encontravam um ambiente de paz, propício para a oração, para o recolhimento, para o diálogo com Deus, se tornaram verdadeiros shows de roque, espetáculos grotescos de histeria coletiva. A praga devastou até as “gincanas culturais” das escolas e as singelas festinhas de criança.
Agora, em João Pessoa, especialmente em João Pessoa, que é o espaço que me castiga, a gente não tem mais liberdade para viver dentro da nossa própria casa. No chamado recesso do lar, não se pode mais refazer as energias, conversar com amigos que nos visitam, dar um pequeno cochilo, ouvir música em volume civilizado ou assistir a um bom filme. A vizinhança não permite.
Outro exemplo: Usar o celular na rua. O barulho produzido por todas as fontes possíveis e imagináveis é tão intenso, no centro da cidade, que a gente simplesmente não escuta a chamada do celular. E se consegue ouvir a chamada ou tem vibrador no aparelho, não pode se comunicar com razoável naturalidade, tem que ser aos berros, em total descontrole.
Para completar a loucura, surgiram de uns tempos para cá, com a complacência das autoridades, as chamadas rádios comunitárias a cabo, as “rádios de poste”, “emissoras” com uma programação basicamente de música e informação. O estúdio é instalado em qualquer 2×2 do centro. De lá saem quilômetros de fios e caixas de som. Tudo pendurado nos postes de iluminação pública.
Pois bem, as tais “rádios de poste” se juntam aos inúmeros carros de som que trafegam em marcha lenta, engarrafando o trânsito, aos carrinhos de mão do pessoal que vende CDs e DVDs piratas e ao blá blá blá sonoro na porta das lojas, infernizando mais ainda a vida do morador de João Pessoa. A coisa tornou-se insuportável, ultrapassa todos os limites do tolerável.
É certo que a Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura (de João Pessoa – PB) tem feito das tripas coração para coibir os abusos. O telefone 3218-9208 até que funciona. Eu pelo menos já tive algumas experiências bem sucedidas. Mesmo tratando da matéria no Artigo 42, inciso III, da Lei das Contravenções Penais (na realidade um Decreto-Lei de 1941), embora aplicando penas muito brandas aos infratores, está na hora de o legislador encarar a poluição sonora como crime ambiental.
Não bastam apenas as campanhas educativas realizadas pelos administradores mais sensíveis. O legislador, assessorado por bons tributaristas, estabeleceria a melhor forma de punir esses trogloditas do Terceiro Milênio. Multa, multa pesada para as pessoas flagradas perturbando o sossego alheio. A reação da sociedade civilizada tem que ser proporcional ao dano que essa gente deseducada causa.
(*) Jornalista e advogado em João Pessoa (PB)

4 comentários:

Karen disse...

Que alívio ver alguém descrever com tanta propriedade o que sinto na pele todo santo dia aqui no interior de São Paulo.

A sensação é angustiante, porque para poder trabalhar (tenho um escritório em casa) devo, inúmeras vezes, trancar as janelas (ainda que o calor esteja inclemente) e utilizar tampões nos ouvidos (é isso mesmo, tampões como se eu trabalhasse em metalúrgica!) para conseguir concentrarme e produzir.

O pior é que, quando finalmente reclamamos, depois de aguentar horas, dias, semanas e meses de desrespeito contínuo, somos chamados de (substituo os palavrões utilizados por equivalentes publicáveis) caretas, histéricos, intolerantes, etc.

Outro problema comum por aqui: tocadores de MP3 que, ao invés de ser utilizados com os respectivos fones de ouvido, são usados como sistemas de som individuais em restaurantes, ônibus, na rua, em mercados.

E existe uma pergunta que não quer calar: se o máximo que o ouvido humano deve suportar de ruído, antes que comece a deteriorar, son 85 dB, por que as fábricas de equipamentos de audio são autorizadas a produzir equipamento não-profissional (isto é, que qualquer um pode comprar) que emite ruídos muito mais potentes que esse valor?!? Não pagamos impostos para que o governo CUIDE da nossa saúde coletiva?!

É óbvio que muitos de nós fazem um trabalho corpo-a-corpo de re-educação de vizinhos, mas que outras idéias podemos utilizar para sensibilizar os legisladores e demais 'produtores culturais'?

Anônimo disse...

Parabenizo também ao autor da postagem. E ratifico tudo que a Karen comentou. Aqui no Rio de Janeiro, passamos pelos mesmos problemas e ainda mais um, que gostaria inclusive de saber se exise em outras lugares: sinaleiras de garagem. Tocam a todo momento, de maneira quase intermitente, numa altura insuportável. Luto pela regularização do uso da sinaleira do prédio ao lado da minha casa há 4 anos. Agora que uma fiscal se deu ao trabalho de entregar um ofício e olhe lá.
Já morei numa cidade do interior de SP e para minha suspresa, me deparei com tanto ou mais barulho que aqui no Rio de Janeiro.
Por já ser um problema nacional, concordo que deva haver multa para os vândalos hi-tech.

Anônimo disse...

Moro em São Paulo, uma das mais barulhentas cidades do mundo e o problema é igual ao de minha mãe que mora em Santos! uma cidade litorãnea que deveria ser mais tranquila, mas pasmem, tenho mais silencio em São Paulo, morando numa rua com tráfego de onibus, do que em Santos a uma quadra da praia! mesmo fora de temporada de verão e em dias de semana.
Acho que o problema maior é a falta de educação que as pessoas tem ao mudarem-se para edifícios e nåo respeitarem seus vizinhos.
Também no trånsito, a buzina tornou-se a boca dos mais desajustados.
Alarme de automóvel dispara e ninguém aparece para desligar...3 horas da manhã? quem liga?
Para quem reclamar? A Polícia diz que tem mais o que fazer...que autoridade se incomoda com isso?
As sinaleiras dos prédios vizinhos são contra a lei, mas para provar isso voce tem que lutar contra a burocracia que protege os contra-leis.Cada Município tem suas próprias regras...
Enfim, estamos num país de quase surdos, indo para o futuro de uma geração que será surda com certeza e vai precisar dos cuidados da Saúde Pública
e será um dos problemas a mais que estamos deixando para os futuros governantes resolver, porque no momento ninguém quer saber disso.
Não de verdade!!
Multa só funciona se tivermos quem irá controlar os fiscais que iråo multar senão vai se tornar mais uma lei "que nåo pegou" como a lei do limite de alcool para os motoristas que como todos sabem, com qualquer "extra" requisitado pelos guardas os jovens de hoje se safam "numa boa".
Tenho esperança que haja alguma campanha de conscientização, fazendo com que as crianças comecem uma nova geração de educação.
Quem viver verá...

Danielfo disse...

Ainda há o problema da surdez divina, que faz com que os templos religiosos cantem e gritem cada vez mais altos, para a voz chegar nos céus!!!

E enquanto Deus está protegido da algazarra pelo vácuo do espaço, nós ficamos aqui sem ter pra quem rezar.