Até que ponto o hábito de se expor a sons exagerados leva a um real comprometimento auditivo? E que cuidados se deve tomar pra garantir um ouvido saudável por muitos e muitos anos? Confira a entrevista com a médica da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, Andréa Pires de Mello.
RJTV: Quem trabalha em lugares com muito barulho pode ter problemas auditivos?
Andréa Pires de Mello: Sem dúvida. É importante a gente esclarecer que, para que essa perda auditiva provocada e induzida pelo ruído se estabeleça, três fatores são primordiais: o nível de exposição ao qual esse indivíduo está exposto, o tempo de exposição – quantas horas por dia ele fica exposto e ao longo de quantos anos -, e a sensibilidade individual. Existe alguns indivíduos que são mais resistentes e outros que são mais sensíveis, mais suscetíveis a desenvolver essa perda auditiva.
Há algum tipo de prevenção para quem trabalha com barulho? No caso do DJ não, mas no caso do guarda municipal, pode usar proteção?
Sem dúvida alguma. Inclusive, a legislação brasileira preconiza: o limite de tolerância para essa exposição ao ruído é de 85 decibéis para oito horas diárias. Então, se você aumentar esse nível de exposição para 90 decibéis, esse tempo tem que ser reduzido para quatro horas. Se você observa o que aconteceu no quarto da adolescente (ver matéria “Problemas de audição”) isso é um absurdo. Eu fiquei surpresa. Em vez de 85 db, deveria estar em uma média de 55 ou 50 decibéis.
Quem fica muito tempo parado no trânsito pode causar problema auditivo?
Depende do tempo de exposição e do nível ao qual esse indivíduo encontra-se exposto. Nós sabemos que existem alguns locais, principalmente na hora do rush em algumas avenidas, que chegam a 90 decibéis.
Quando a pessoa entra em contato com um barulho tão alto, de 90 decibéis, por exemplo. Se ela depois passar por um período de descanso em casa, sem ruído, tranqüilo, o dano volta atrás? Dá pra recuperar o dano?
Interessante. É a sensação que você tem quando sai de uma boate, você sai com a sensação do ouvido estar “abafado”, fica um zumbido. Aí, volta pra casa e volta tudo ao normal algumas horas depois, no dia seguinte. Isso é chamado de Mudança Temporária Linear. Nesta fase, você não tem uma perda definitiva da audição ainda. Agora, se você continuar a se expor a um som de alta intensidade, essa perda vai ser definitiva.
Faz bem ou mal escutar música durante a caminhada?
Não. Existem trabalhos demonstrando que durante o exercício físico a exposição ao ruído aumentaria essa sensibilidade à perda auditiva. Nesse caso específico eu recomendo: não coloque o walkman num volume tão excessivo. Isso a gente vê: a gente passa de bicicleta, às vezes, por essas pessoas e consegue escutar a música que elas estão ouvindo...
Como eu fico sabendo que o meu filho está com algum problema auditivo?
Dependendo da idade, a criança já pode se queixar. É importante que, periodicamente, essa criança vá a um otorrino. Se ele estiver em idade escolar, algumas escolas solicitam a audiometria antes da alfabetização. Isso é importante.
Fonte: RJTV - 28 de março de 2006
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